Vítimas de queda de prédios no Rio vivem com renda até 80% menor
Empresário perdeu livraria e virou guia turístico da cidade.
Tragédia na Avenida Treze de Maio completará um ano.

Além dos 22 mortos — cinco deles até hoje desaparecidos —, a tragédia do desabamento de três prédios na Avenida Treze de Maio, no Centro do Rio, que completa um ano nesta sexta-feira (25), deixou centenas de pessoas traumatizadas, desempregadas e endividadas. Consultórios, escritórios de contabilidade, de advocacia, livraria, produtora de vídeo, tudo virou escombros. O trabalho de uma vida inteira foi perdido em minutos. E para refazer a vida, a maioria teve que baixar o padrão de vida.
Presidente da Associação das Vítimas da Treze de Maio, o cirurgião-dentista Antonio Molinaro tinha cinco consultórios no 4º andar do Edifício Colombo. Trabalhava havia 37 anos no local. Usou reservas financeiras, ganhou doações e conseguiu refazer a vida em uma sala no mesmo bairro, a poucos metros do antigo. Ele calcula o prejuízo de R$ 600 mil. A renda atual caiu cinco vezes. “Tive que usar minha poupança, vender bens que eu tinha para pagar as contas, e ganhei de alguns colegas cadeira, ganhei equipamentos”, contou.
Meu padrão de vida caiu umas cinco vezes"
Renan Magalhães
O empresário Renan Magalhães Pimentel, de 44 anos, tinha a livraria Casa dos Concursos, que comandou por 12 anos, oito deles no prédio da Avenida Treze de Maio. Vendia 1,2 milhão de livros por ano. Depois do desabamento, passou meses resolvendo problemas, indenizando funcionários e repensando o que faria da vida. Agora é guia turístico. Ele se reergueu com a reserva financeira que havia acumulado. “Meu padrão de vida caiu umas cinco vezes. O que eu ganho hoje não sobra, mas paga as contas”, afirmou.

Procurada pelo G1, a Prefeitura do Rio afirmou que a Lei 111/2011, que institui o Plano Diretor da Cidade, prevê que "não dependerão de licença as obras de modificação interna, sem acréscimo de área, que não impliquem em alterações das áreas comuns das edificações". Segundo a prefeitura, a responsabilidade pela conservação do imóvel é do proprietário, assim como o acompanhamento e fiscalização da obra, que também é responsabilidade do engenheiro ou arquiteto contratado.
A respeito dos furtos, a Prefeitura do Rio informou que identificou e solicitou a demissão imediata dos quatro funcionários do consórcio Porto Novo flagrados pela imprensa furtando objetos dos escombros do desabamento, além de denunciar o caso à Polícia Civil.
A empresa T.O. informou que vai esperar pelo resultado das investigações para se pronunciar. O advogado de Manoel Renha disse que seu cliente não poderia dar entrevista por motivos de saúde. O operário Alexandro da Silva Santos se disse inocente. Os outros três operários que trabalhavam na obra não foram encontrados.
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Nenhum dos sete indiciados pelo desabamento sentou no banco dos réus. No Ministério Público do Estado, a promotora Ana Lúcia Melo enviou quinta-feira (17) um ofício à Polícia Civil, dando um prazo de três meses para mais investigações. Nele, a promotora pede mais depoimentos e uma perícia complementar.
Segundo a Polícia Civil, a delegacia que investiga caso ainda não recebeu o ofício do MPE.
Esfera federal passou para estadual
Como havia a suspeita de que o Theatro Municipal - protegido pela União - tivesse sido afetado pelo desabamento, a Polícia Federal cuidou das investigações. Em maio do ano passado, a PF afirmou que sete pessoas foram as culpadas pelas mortes. Entre elas estava Sérgio Alves, presidente da T.O. , a Tecnologia Organizacional. Para a polícia, uma obra feita pela empresa de Alves no 9º andar do edifício derrubou paredes de sustentação do prédio e foi a causa do desabamento.
Os investigadores ainda apontaram como culpada a administradora da T.O., Cristiane Azevedo, e quatro operários que trabalharam na obra. Assim como o síndico do prédio, Manoel Renha, que permitiu as intervenções.
Depois do fim das investigações, o inquérito foi para o Ministério Público Federal. Mas os procuradores concluíram que não tinham competência para cuidar do caso. Eles entenderam que não foi comprovado qualquer dano ao Theatro Municipal. Em dezembro do ano passado, então, o inquérito foi repassado ao Ministério Público do Estado.

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