quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

QUEDA DE PREDIOS NO RJ:COMPLETARÁ 1 ANO NA SEXTA

Vítimas de queda de prédios no Rio vivem com renda até 80% menor

Empresário perdeu livraria e virou guia turístico da cidade.
Tragédia na Avenida Treze de Maio completará um ano.


Além dos 22 mortos — cinco deles até hoje desaparecidos —, a tragédia do desabamento de três prédios na Avenida Treze de Maio, no Centro do Rio, que completa um ano nesta sexta-feira (25), deixou centenas de pessoas traumatizadas, desempregadas e endividadas. Consultórios, escritórios de contabilidade, de advocacia, livraria, produtora de vídeo, tudo virou escombros. O trabalho de uma vida inteira foi perdido em minutos. E para refazer a vida, a maioria teve que baixar o padrão de vida.
Presidente da Associação das Vítimas da Treze de Maio, o cirurgião-dentista Antonio Molinaro tinha cinco consultórios no 4º andar do Edifício Colombo. Trabalhava havia 37 anos no local. Usou reservas financeiras, ganhou doações e conseguiu refazer a vida em uma sala no mesmo bairro, a poucos metros do antigo. Ele calcula o prejuízo de R$ 600 mil. A renda atual caiu cinco vezes. “Tive que usar minha poupança, vender bens que eu tinha para pagar as contas, e ganhei de alguns colegas cadeira, ganhei equipamentos”, contou.
Meu padrão de vida caiu umas cinco vezes"
Renan Magalhães
O escritório de advocacia Blatter e Galvão, com uma história de 40 anos, viu os contratos de cerca de 300 clientes e processos em andamento virarem pó. O presidente da empresa, o advogado Octávio Blatter, prefere não citar números, porque aguarda uma perícia avaliar o tamanho do prejuízo. Mas ele chuta em pelo menos R$ 500 mil só de bens materiais. “Nós tivemos um decréscimo de receita muito grande, tivemos prejuízos enormes. O escritório continua regularmente, pagando dívidas com recursos pessoais, ou que estão sendo emprestados. O empréstimo concedido pelo estado foi absolutamente insuficiente, no valor de R$ 100 mil”, disse Blatter, que depois de muito sacrifício, alugou uma sala menor, na Rua da Assembleia.
O empresário Renan Magalhães Pimentel, de 44 anos, tinha a livraria Casa dos Concursos, que comandou por 12 anos, oito deles no prédio da Avenida Treze de Maio. Vendia 1,2 milhão de livros por ano. Depois do desabamento, passou meses resolvendo problemas, indenizando funcionários e repensando o que faria da vida. Agora é guia turístico. Ele se reergueu com a reserva financeira que havia acumulado. “Meu padrão de vida caiu umas cinco vezes. O que eu ganho hoje não sobra, mas paga as contas”, afirmou.
Terreno onde ficavam os três prédios na Treze de Maio ainda tem tapumes (Foto: Carolina Lauriano / G1)Terreno onde ficavam os três prédios na Treze de Maio ainda tem tapumes (Foto: Carolina Lauriano / G1)
Outras histórias como as de Renan, Antonio e Octávio estão entre as mais de 130 pessoas que compõem a associação das vítimas. Eles entraram em uma ação conjunta, através do escritório Blatter e Galvão, contra a empresa T.O., responsável pelas obras no 9º andar do Edifício Liberdade, que motivaram o desmoronamento dos prédios; o síndico do prédio, Paulo Renha, que permitiu a obra irregular; e a Prefeitura do Rio, “não só pela ausência de fiscalização da obra, como pelo desaparecimento dos nossos bens, que pelas fotografias estavam em bom estado”, explicou o advogado. A ação corre, há cerca de um mês, na 5ª Vara da Fazenda Pública.
Procurada pelo G1, a Prefeitura do Rio afirmou que a Lei 111/2011, que institui o Plano Diretor da Cidade, prevê que "não dependerão de licença as obras de modificação interna, sem acréscimo de área, que não impliquem em alterações das áreas comuns das edificações". Segundo a prefeitura, a responsabilidade pela conservação do imóvel é do proprietário, assim como o acompanhamento e fiscalização da obra, que também é responsabilidade do engenheiro ou arquiteto contratado.
A respeito dos furtos, a Prefeitura do Rio informou que identificou e solicitou a demissão imediata dos quatro funcionários do consórcio Porto Novo flagrados pela imprensa furtando objetos dos escombros do desabamento, além de denunciar o caso à Polícia Civil.
A empresa T.O. informou que vai esperar pelo resultado das investigações para se pronunciar. O advogado de Manoel Renha disse que seu cliente não poderia dar entrevista por motivos de saúde. O operário Alexandro da Silva Santos se disse inocente. Os outros três operários que trabalhavam na obra não foram encontrados.
MP pede mais perícia e depoimentos
Nenhum dos sete indiciados pelo desabamento sentou no banco dos réus. No Ministério Público do Estado, a promotora Ana Lúcia Melo enviou quinta-feira (17) um ofício à Polícia Civil, dando um prazo de três meses para mais investigações. Nele, a promotora pede mais depoimentos e uma perícia complementar.
Segundo a Polícia Civil, a delegacia que investiga caso ainda não recebeu o ofício do MPE.
Esfera federal passou para estadual
Como havia a suspeita de que o Theatro Municipal - protegido pela União - tivesse sido afetado pelo desabamento, a Polícia Federal cuidou das investigações. Em maio do ano passado, a PF afirmou que sete pessoas foram as culpadas pelas mortes. Entre elas estava Sérgio Alves, presidente da T.O. , a Tecnologia Organizacional. Para a polícia, uma obra feita pela empresa de Alves no 9º andar do edifício derrubou paredes de sustentação do prédio e foi a causa do desabamento.
Os investigadores ainda apontaram como culpada a administradora da T.O., Cristiane Azevedo, e quatro operários que trabalharam na obra. Assim como o síndico do prédio, Manoel Renha, que permitiu as intervenções.

Depois do fim das investigações, o inquérito foi para o Ministério Público Federal. Mas os procuradores concluíram que não tinham competência para cuidar do caso. Eles entenderam que não foi comprovado qualquer dano ao Theatro Municipal. Em dezembro do ano passado, então, o inquérito foi repassado ao Ministério Público do Estado.
Imagens de janeiro de 2009 (esq.) e deste domingo, 29 de janeiro, permitem comparar a esquina onde ocorreu o desabamento (Foto: João Carlos Rebello Caribé/G1 e Bernardo Tabak/G1)Imagens de janeiro de 2009 (esq.) e deste domingo, 29 de janeiro, permitem comparar a esquina onde ocorreu o desabamento

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